segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

RESULTADO ARTÍSTICO DA OFICINA "O TREINAMENTO CORPO-VOCAL: A VOZ EM AÇÃO NA CENA"

A oficina O TREINAMENTO CORPO-VOCAL: A VOZ EM AÇÃO NA CENA, ministrada pelo Arte-criador Carlos Ferrera (diretor artístico da Cia. Santa-Fogo – Recife/ PE), privilegia a prática de uma produção vocal cênica a partir do desbloqueio total do corpo, em exercícios físicos que aliam movimentação, respiração e fluxo sonoro. Essa proposição de treinamento garante um resultado dinâmico, liberto para a experimentação, localizando o intérprete-criador em um situação investigativa para o desenvolvimento de recursos técnicos e estilísticos na feitura da cena.

Nos dois vídeos poderemos visualizar uma das muitas possibilidades de inserir no trabalho artístico um fluxo corpo-vocal, que independentemente das escolhas poéticas, deve garantir as dinâmicas e texturas sonoras.




PARTE 1



Relação dos Intérpretes-Criadores:
Paulo Henrique de Souza e Julliana Soares (Cena 1)
Leonardo Bhalleno (Cena 2)
Rosa de Amorim (Cena 3)


PARTE 2


Relação dos Intérpretes-Criadores:Everton Carvalho (Cena 4)
Wermeson Jheyvson (Cena 5).

Ministrante da oficina e Diretor das cenas:
CARLOS FERRERA

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

VIDE O VÍDEO 9 - O PRIMEIRO DESENHO ANIMADO DA HISTÓRIA

No dia 17 de Agosto de 1908, o diretor francês Émile Courtet (também chamado de Émile Cohl) projetou no ‘Théâtre du Gymnase’ em Paris o que foi considerado o primeiro desenho animado da história. Com a ajuda de um projetor de filmes moderno, Fantasmagorie trouxe às telas o gênero animado. Alguns anos mais tarde, em 1912, Courtet mudou-se para Fort Lee, nos Estados Unidos, onde trabalhou no estúdio francês Éclair e espalhou sua técnica.
Para criar o curta de um pouco mais de um minuto, cada frame foi desenhado em um pedaço de papel, em um total de 700 desenhos, e depois fotografados. A animação foi gerada a partir do negativo do filme, conseguindo o efeito final. O nome Fantasmagorie é uma referência a uma técnica francesa do final do século XVIII chamada “fantasmagoria”, um show de projeções de “fantasmas” que existia antes da criação do cinema, algo parecido com o efeito de um caleidoscópio projetado.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

VIDE O VÍDEO 8: A Street Art em 3D

Nesta semana dedicamos um espaço para uma modalidade relativamente nova das artes plásticas, que é a pintura em 3D. Essa técnica usa os parâmetros da perspectiva clássica, porém em caráter de intervenção pública, saindo da moldura (quadro) e ganhando espaços inusitados da cidade. Escolhemos alguns exemplos dessa arte tão provocante e linkada com a cultura urbana.

Boa apreciação!

EDGAR MUELLER

O artista alemão Edgar Mueller vem desenvolvendo projetos em vários países, explorando a técnica de desenho 3D. Ao escolher o espaço urbano como meio de difusão de sua arte, o artista usa a rua como o suporte mais eficaz para suas imensas paisagens, oferecendo suas criações como dinamizadoras de sensações compartilhadas.
A obra exposta aqui, THE CREVASSE (Fenda de Geleira), é resultado de um trabalho realizado durante o “Festival of World Culture” em Agosto de 2008, na Irlanda, com o auxílio do Goethe Institut.



Mais informações sobre o artista: www.metanamorph.com

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

VIDE O VÍDEO 7 + CLARICE LISPECTOR

No VIDE O VÍDEO 7, a última entrevista da escritora Clarice Lispector, concebida ao jornalista Julio Lerner, no programa PANORAMA (em 1977, mesmo ano da sua morte) e reexibida no 30 Anos Incriveis da tv cultura.

Clarice Lispector figura entre os grandes nomes da literatura nacional, tendo investido em sua intimidade profunda, explícita e misteriosa. Convivendo com os paradoxos das emoções. Ainda hoje é amplamente lida e relida nos palcos, filmes, músicas, pelas artes plásticas e visuais.

Boa apreciação!

PARTE 1


PARTE 2


PARTE 3


PARTE 4


PARTE 5

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

UMA VOZ E SUAS IMAGENS - A cantora Mariana Aydar e dois Video-Clipes, no VIDE O VÍDEO 6

Uma das gratas surpresas da MPB é Mariana Aydar. Musicalmente segura e demonstrando muita maturidade ao interpretar canções autorais e de outros compositores, ela transita entre ritmos e nuances sem perder a sua identidade vocal, que embora particular, deixa quase que clara a lembrança de Elis Regina, quando lança mão de alguns recursos expressivos. O que não diminui em nada o seu trabalho de grande intérprete, pois atrás de um grande cantor sempre existe uma memória musical que lhe segue.

Mariana tem berço musical. Filha de Mário Manga (grande arranjador e componente do grupo Premê) e da produtora Bia Aydar, passou a infância entre estúdios, palcos e camarins, para posteriormente estudar em uma das mais conceituadas escolas de música do mundo, a Berklee School of Music, em Boston (EUA).

Aqui poderemos apreciar os vídeo-clipes das músicas “Palavras Não Falam” e “Deixa o Verão”, dirigidos por Douglas Kuruhma e Leandro Lima, respectivamente. Os vídeos são impecáveis e revelam o talento dos diretores, ressaltando o lado despojado de Mariana, que se mostra muito à vontade com a câmera e vai além do simples registro áudio-visual.

Em “Deixa o Verão” Douglas Kuruhma narra com as imagens, transformando-as num diário pessoal. A partir de uma edição, que em muito se referencia à fotografia de momentos corriqueiros e jogando algumas citações na tela como “Não tem começo...”,”Feliz Agora”, “Todos os lugares em que nos encontramos...”, reforça ainda mais uma impressão feminina. O vídeo-clipe tem um ar “alternativo” e despretensioso, apesar de ser tecnicamente bem finalizado.

Já “Palavras não Falam”, Leandro Lima aposta no minimalismo da imagem e embarca no depoimento da letra da canção, declaradamente íntima. Uma confissão transposta para o branco da tela, onde o centro dela é a própria Mariana cantando entre focos e desfocos, dando a nítida percepção da relação entre criador e criatura, ressaltada no estranhamento proposto pelo figurino e adereços. Em alguns momentos Mariana assumi até um tom meio performático.

Estamos diante de uma grande voz, uma grande intérprete, preocupada também com o diálogo com outras artes para agregar discursos poéticos ao seu dom: Cantar!

DEIXA O VERÃO



PALAVRAS NÃO FALAM

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O AMOR, O PRAZER, A LIBERDADE E A FELICIDADE - A FILOSOFIA DE EPICURO, no VIDE O VIDEO 5

Epicuro nasceu em 341 a.C., na Ilha de samos, mas ainda muito jovem partiu para Téos, na costa da Ásia Menor. Quando criança estudou com o platonista Pânfilo por quatro anos e era considerado um dos melhores alunos. Certa vez ao ouvir a frase de Hesíodo, todas as coisas vieram do caos, ele perguntou: e o caos veio de que? Retornou para a terra natal em 323 a.c.. Sofria de cálculo renal, o que contribuiu para que tivesse uma vida marcada pela dor. Fundou sua própria escola filosófica, chamada O Jardim, onde residia com alguns amigos, na cidade de Atenas. Lecionou nela até a morte, em 271 a.C. cercado de amigos e discípulos. Tendo sua vida marcada pelo ascetismo, serenidade e doçura.


VIDEO 1



VIDEO 2



VIDEO 3

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

VIDE O VÍDEO 4 - Masterclasses com TERESA BERGANZA

Dois vídeos mostram o trabalho da grande mezzo-soprano Teresa Berganza, dando aulas para jovens cantores líricos. Essas aulas são conhecidas como masterclasses, onde os alunos se predispõem a interpretar um conjunto de peças em público sob a intervenção do professor.

Teresa Berganza, nasceu em Madrid, no ano 1935 e teve sua estréia em 1957. Estudou piano no conservatório de sua cidade natal e canto com Lola Rodriguez de Aragón. Com sua técnica primorosa, musicalidade e forma espontânea de interpretar os seus personagens operísticos, conquistou os palcos do grande circuito lírico mundial e atualmente dedica-se ao repasse de sua experiência para jovens cantores, que lotam seus Masterclasses. Teresa Berganza foi também uma das grandes difusoras do repertório hispânico.

Nos vídeos, vemos Cornelia Oncioiu, uma mezzo-soprano romena, e Xavier Mas, um tenor francês, sendo conduzidos por Teresa Berganza nas interpretações das árias “Una Voce Poco Fa” (Uma voz pouco faz), ária da personagem Rosina, da ópera O Barbeiro de Servilha, de Giacomo Rossini (29, Fevereiro, 1792 – 13, Novembro, 1868) e "Mio Tesoro" (Meu Tesouro), do personagem Don Ottavio, da ópera Don Giovanni, de W. A. Mozart (27, Janeiro, 1756 – 06, Dezembro, 1791).



Teresa Berganza com Cornelia Oncioiu



Teresa Berganza com Xavier Mas

domingo, 1 de novembro de 2009

ROSAS DANST ROSAS

Essa semana, no terceiro VIDE O VÍDEO , apreciaremos juntos uma parte do espetáculo, em formato de vídeo dança, Rosas Danst Rosas, da companhia Rosas (importante núcleo de criação da dança contemporânea mundial) de Bruxelas (Bélgica). Coreografado por Anne Teresa De Keersmaeker, o espétáculo mostra bem o primor técnico das bailarinas do grupo e o pensamento instigante e dinâmico de sua criadora.

Uma boa apreciação e até a semana que vem!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

2º VIDE O VÍDEO

Esta semana o projeto VIDE O VÍDEO exibe trailer do filme MEDEA, do dinamarquês Lars Von Trier, um dos mais conceituados artistas do cinema atual.

“Vinte anos se passaram desde que Lars Von Trier filmou para a televisão dinamarquesa sua versão de Medéia, uma das tragédias gregas que mais preserva impacto até hoje. O diretor marcou boa parte da sua carreira pelas heroínas trágicas, vide Emily Watson em Ondas do Destino, Bjork em Dançando no Escuro, e Nicole Kidman em Dogville. Mas essa Medéia televisionada, interpretada por Kirstein Olesen, é sem dúvida um laboratório que acaba resultando em todas essas outras e em sua filmografia quase sempre impecável.

O diretor usou de técnicas interessantes de montagem e de efeitos com Chroma Key, o que dá ao filme um ar moderno para a época. A história se passa rapidamente, tem pouco mais de uma hora, aproveitando o conhecimento prévio do público acerca da tragédia, ao contrário da versão italiana de Pasolini protagonizada por Maria Callas, que é um filme mais extenso e de bem mais difícil digestão.”

(Texto postado por Eduardo Iribarrem, no Blog unascositasmas.blogspot.com)

Até a semana que vem com mais imagens e uma boa apreciação!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Segunda com Arte de Primeira




Dentro da programção do Segunda com Arte de Primeira, evento organizado pela Compassos Cia. de Dança , representei o Colaborativo Permanência (o nosso coletivo de Grupos e Artistas Independentes de Teatro Profissional) aplicando a vivência no Treinamento Corpo-Vocal, que uso como mote para preparação dos arte-criadoes da Cia. Santa-Fogo.

A Experiência foi maravilhosa e deflagradora de muitas questões pertinentes à dança contemporânea. Discutimos sobre a possibilidade de uma voz para ser dita na dança e sobre a inclusão, na formação dos bailarinos, de um estudo corpo-vocal apropriado e profundo. O som e a palavra é um território comum a todos os artistas da cena, não sendo um privilégio unicamente dos atores ou cantores.

A bailarinas Liana Gesteira, Patrícia Costa e Fernanda Lisboa, doaram-se interiamente aos exercícos propostos, resultando em improvisações corpo-vocais de singular beleza e fluidez.

VIDE O VÍDEO

A Cia. Santa-Fogo dá início ao projeto VIDE O VIDEO.
Semanalmente, aqui no blog, será postado um vídeo, acompanhado de um texto.
Teatro, Dança, Performance, Artes, Plásticas, Visuais e Audio-visuais, Literatura, Música, Filosofia e outras tantas manifestações do pensamento humano, estarão no VIDE O VÍDEO.

AGORA VENHAM NESSA CONOSCO!

E para começar com o pé direito, deixamos vocês com imagens de uma demonstração do trabalho do Mímico Corporal Dramático Mattia Maggi, do Hippocampe, Paris.

A Mímica Corporal Dramática

A Mímica Corporal Dramática, de Etienne Decroux (1898-1991), traz para o corpo os princípios que regem a própria estrutura do drama. Nela, princípios teatrais são traduzidos corporalmente, gerando a tensão necessária para o surgimento do conflito e da ação. Etienne Decroux escolhe, para esta transposição, o drama corporal universal, o primeiro conflito da Humanidade: a luta para manter-se de pé, a luta contra a gravidade terrestre. Desta forma, ao invés de lutar para que esse esforço não apareça na expressão artística, o mímico o demonstra em cada ação, recriando-o de maneira artificial, renovando o pacto de atração pela terra, colocando-se em situação de equilíbrio precário.


segunda-feira, 6 de julho de 2009

Oficina do mês no Colaborativo Permanência

Oficina "O transe Ritualistico Como Proposição Investigativa no Processo de Criação Cênica".Uma abordagem de ferramentas para atores, bailarinos, diretores e coreógrafos nos trabalhos laboratoriais de processo de criação de espetáculos, tendo como base de investigação a entrega ritualistica do corpo em movimento e a manipulação de resultados.


A metodologia aplicada será de investigação prática com pontuação teórica e indicação bibliográfica para o aprofundamento do tema, onde também será seguido um roteiro para experimentação de resultado criativo a ser construído ao longo do processo das quatro semanas de trabalho e apresentado ao final da oficina.


O método foi desenvolvido pela artista independente da performance, teatro, dança, música e audiovisual, Eli Maria, como parte do seu processo de trabalho criativo pessoal e de direção do Espetáculo Espaço_Peso, encenado no ano de 2007, quando integrante da Cia. Santa-Fogo, em Recife.




Início : dia 07/07/09
Término: dia 28/07/09


TODAS AS TERÇAS, ÀS 19H!
No Espaço Compassos
Rua da Moeda, 93, 1º andar, Bairro do Recife. (Entrada pela Rua Mariz de Barros – casa rosa com janelas amarelas)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Fotos de Aracaju!

Obrigado Aracaju pelas belas experiências!
Postei aqui algumas das fotos de nossa vivência tão eterna!
Grande beijo a todos e todas!
Girando, girando, girando,...

Beijos e abraços terníssimos!

Carlos Ferrera









Olá, gente!
Aqui estou eu de volta à Recife, para o seio da minha Cia. Santa-Fogo, cheio de saudades da oficina PROCESSO DE ENCENAÇÃO, pelo FTB (Festival do Teatro Brasileiro - Cena Pernambucana), em Aracaju, onde fiz parte da equipe de oficineiros, respondendo pela orientação Corpo-Vocal, e com Kleber Lourenço assinei a direção Geral do resultado final. Gente, sorrisos, arte, superação, crescimentos, lágrimas de uma alegria viva, um vida-a-vida urgente em oito horas de trabalhos diários.

Deixo aqui sinceros agradecimentos a todos que fizeram esta história, que culminou num lindo resultado: Onde Fica a Praça Camerino?. Abraços em todos da turma de atores que deram sempre um tanto mais de suas energias para realizarem esse momento único e eterno! Abraço terno nos novos amigos e aos colaboradores de passagem pelas oficinas específicas, orientadas por Marceo Sena (Sonoplastia), Luciano Pontes (Figurino), George Cabral (Cenografia), Gera Cyber (Maquiagem), Eron Vilar (Iluminação)e Luiz Felipe Botelho (Dramaturgia), que nos presenteou com um lindo texto, feito com a colaboração de dos atores participantes da oficina.

Deixo também um especial abraço para o Marcondes Lima, o coordenador pedagógico desse mágico empreendimento, para o Sérgio Bacelar o super sonhador-produtor do FTB, para a Luana Fonteles, a sua escudeira e nossa também e ao Rodrigo Farias, sempre pronto a nos levar de canto a canto da cidade!

Então espero volta à Aracaju e reencontrar essa turma toda e estar com eles numa sempre nova alegria!

terça-feira, 12 de maio de 2009

TEXTOS SOBRE O CORPO-VOCAL ATUALIZADOS

Olá, gente!

Estou nesse exato momento na cidade de Aracaju, capital de Sergipe, onde estou dando uma oficina, para o FESTIVAL DO TEATRO BRASILEIRO - CENA PERNAMBUCANA. Resolvi então atualizar os textos que havia escrito sobre o treinamento Corpo-Vocal, inserindo algumas alterações nos conceitos e corrigindo alguns erros gramaticais.

Um grande abraço em todos!

Carlos Ferrrera

A voz em Ação na Cena (Parte 1) - Preceitos

Carlos Ferrera*

Estar imerso dentro das práticas e reflexões acerca da voz e de seu uso poético nas artes, é deparar-se com um vasto e sensível campo subjetivo. Costumo dizer que a voz nasce nos espaços entre o corpo e a mente, ocupa o mundo, materializando idéias e paixões.

Tanto artisticamente, como na vida cotidiana, é possível identificar três instâncias expressivas da voz humana: Vocalidade, Verbalidade e Musicalidade. Chama-se Vocalidade os fluxos sonoros que compreendem os sons relacionados aos impulsos e instintos (gemidos de dor, gritos de medo, suspiros de alívios, grunidos, entre outros). A Verbalidade diz respeito ao uso das palavras pertencentes a determinado código linguístico. E a Musicalidade é uma associação de recursos melódicos, harmônicos e rítmicos à voz, podendo abarcar o universo das Vocalidades e Verbalidades.

Lançando um olhar analítico sobre as recentes abordagens críticas de treinamentos vocais para as artes cênicas, constata-se um consenso: A produção da voz deve estar intimamente ligada a uma proposta corporal, abrangendo as três instâncias expressivas já citadas (Vocalidade, Verbalidade e Musicalidade), integrando a geografia da cena (configurações da encenação), localizando e mapeando as dinâmicas respiratórias, intensidades, timbres, tonalidades, deslocamentos, zonas de solidão e solilóquio, convívios e contracenas, instaurando no palco o habitat natural do atuante.

O treinamento vocal eficiente leva em consideração a estruturação orgânica do aparelho fonador e respiratório, correlacionando-os com o restante do corpo, construindo assim a consciência Corpo-Vocal.

O artista do palco deve conhecer e reconhecer seu material físico e mental (corpo e mente) direcionando-se para a construção cênica através de uma ação prévia, que chama-se "pré-para-a-ação" (preparação). Esse momento assume a característica de uma etapa formativa, onde estruturam-se os condicionamentos, os exercícios práticos e as reflexões sobre os usos e as possibilidades da voz cênica.

Orientar, em primeiro lugar, para o "manuseio" correto da respiração faz-se extremamente necessário. O total controle da respiração constitui elemento primordial para a excelência do trabalho cênico. A real noção de como manipular o ar é uma premissa para a obtenção de resultados artísticos mais consitentes. O bom artista cênico é aquele que sabe reger o fluxo de ar de dentro para fora, de fora para dentro. É aquele que rege o sopro e as palavras. É sabido que atores, performers, bailarinos, cantores e circenses, respiram muito a cima do registro cotidiano. E isso quer dizer tudo quando justifica-se a importância de uma total gerência dos mecanismos relacionados ao processo respiratório.

Na familiarização com as quatro partes constituintes da respiração, inspiração, retenção positiva (pulmões cheios de ar), expiração e retenção negativa (pulmões esvaziados), obtém-se a capacidade de elaboração de significados poéticos e uma enorme quantidade de recursos técnicos e estilísticos, no tocante ao trato com as palavras, com produção de texturas sonoras e de silêncios, e com o próprio corpo em seus deslocamentos e imobilidades.

Trabalhar diretamente sobre a respiração requer uma entrega corporal. "Respirar bem na cena" compreende a atitude consciente de abrir os espaços internos do corpo, inspirando o ar, retendo-o e expirando-o; cabendo durante fases de treinamento técnico ou como recurso estilístico, durante a representação ou performance, a retenção dos pulmões esvaziados depois da etapa expiratória (Retenção negativa).

Quando inspiramos, expandimos os pulmões, que inflam, e o músculo diafragma desce. Com esse abaixamento do diafragma, outros orgão sofrem um deslocamento. E quando expiramos os pulmões secam e o diafragma sobe, reposicionando a estrutura deslocada na inspiração. É claro que muitos outros fenômenos acontecem numa respiração completa: o sangue oxigenado corre pelo corpo propiciando a troca gasosa para as células, impulsos elétricos são estimulados, em nível cerebral, os tecidos renovam-se e expelem toxinas, etc. A respiração é um processo que integra todo o organismo em prol da manutenção vital.

Ao lidarmos artisticamente com a respiração, estamos manipulando toda uma rede microscópica de alterações internas. Respirando em cena, podemos retardar a chegada do ar nos pulmões, e com isso alterar o PH do sangue; podemos estimular as glândulas lacrimais, provocando o choro; acionar centros nervosos, responsáveis pelo riso, pela tristeza, pela libido, pela raiva, entre outros.

Pra produzir sons, palavras, gestos e movimentos em arte, respira-se com uma outra dinâmica, diversa da cotidiana. Na vida do "dia-a-dia", tendemos para o relaxamento. No palco, diferentemente, as tensões, as zonas de conflitos, evidenciam-se pelo truque, pelo efeito, pelo risco, pelo dramático, pelo lírico e pelo épico.
E existindo uma comunhão, um padrão respiratório instaurado no ato da representação, o público e o(s) artista(s) tornam-se cúmplices. Essa cumplicidade dá-se, em grande parte, por uma frequência aeróbica vinda do espaço cênico, que leva o público para o processo cinestésisco. Quando o público não compartilha da mesma dinâmica respiratória com a cena, deflagra-se a dispersão, a desatenção. O público tem de estar dentro do jogo.
* Carlos Ferrera é pesquisador, ator, cantor, compositor, dramaturgo, diretor/encenador, preparador corpo-vocal e membro fundador da Cia. Santa-Fogo (Recife-Pernambuco), onde assumi a direção artística, desenvolvendo a linguagem das máscaras expressivas, a mímica corporal dramática, o fluxo criativo em improviso, entre outras vertentes como o vídeo, literatura, música, dança, as artes plásticas e visuais.

A Voz em Ação na Cena (Parte 2) - Para o Treinamento Corpo-Vocal (Texto atualizado)

Carlos Ferrera*

O corpo e a voz são unidades indissociáveis. Negar essa organização no processo de produção vocal para as artes cênicas é subutilizar as potencialidades da respiração e das zonas de ressonância, responsáveis pelas possibilidades de conexão emotiva, elaboração de fraseado, controle de volumes e criação de texturas sonoras. Ao longo de minha trajetória como ator, cantor, compositor, diretor/encenador, dramaturgo e preparador de elenco, venho colhendo, desenvolvendo e aplicando uma série exercícios e reflexões acerca do Treinamento Corpo-Vocal, endossado por algumas práticas do teatro contemporâneo e de seus pensadores, princípios do canto lírico e popular, da fonoaudiologia, da antropologia teatral e pelos conceitos de intérprete-pesquisador-criador.

O primeiro passo para a ativação do Treinamento Corpo-Vocal é a adoção de um alongamento e um aquecimento prévios, evitando assim risco de lesões musculares ou ósseas. Costumo antes mesmo dessa parte, promover uma breve atividade de harmonização em grupo. Isso garante o início da conversão da energia da atitude cotidiana para uma extra-cotidiana.

Logo após essas duas etapas, começa o desbloqueio das áreas articuladas, do centro energético (Chi) e do que chamo de os 9 apoios triangulares. Todos esses pontos devem ser trabalhados de maneira integrada, através de uma exploração de movimentos sinuosos e de deslocamentos nos planos baixo (Terra), médio (Mar) e alto (Céu). Todo corpo deve oferecer-se ao encontro dos três planos, indo de um ao outro sem enrijecer, nem estancar o fluxo contínuo do movimento. A cabeça sempre acompanha as dinâmicas propostas, com olhos, boca, língua e pescoço relaxados, em conexão direta com a coluna vertebral. Nesse momento da investigação e da auto-verificação, o intérprete-pesquisador-criador, depara-se com seus limites físicos e mentais, no tocante às possibilidades de gerenciamento do corpo em trânsito pelo espaço e aciona naturalmente o mecanismo respiratório, sem adicionar tensões nos ombros, nas costas, nos braços, nas pernas ou no peito. Nasce aqui também uma percepção orgânica da inspiração, da expiração e dos instantes de retenção do ar nos pulmões (retenção positiva: pulmões cheios de ar; retenção negativa: pulmões esvaziados), que poderá ser utilizada como fator de dilatação para a construção da presença cênica, além de ser um importante fio condutor no mapeamento dos gestos e das ações em cena.

Frequentemente quando faço preparação de elenco, tenho pedido que os atores, bailarinos ou performers façam passagens completas do espetáculo usando apenas o fluxo respiratório. A experiência geralmente é reveladora e desafiadora, pois evidencia a consciência corporal, a precisão dos gestos, ações, bem como verificam os estímulos internos e externos para o uso da voz e do silêncio.

Após a fase de desbloqueio corporal, poderemos então aproveitar o acionamento da respiração para trabalharmos sobre ela. É muito importante saber fazer a transição de um exercício para o outro. A dispersão deve ser nula, em vista de um melhor aproveitamento e assimilação das sensações impressas no corpo e na mente. Pede-se, então, uma caminhada pelo espaço e em seguida lança-se a pergunta: “como está seu corpo e sua respiração agora?”, que não precisa ser respondida verbalmente. A intenção é manter o estado de auto-verificação e investigação de antes. Cabe também neste momento a leitura de algum texto que sirva como estímulo para a concretização do trabalho de criação, bem como frases de mestres do teatro, da filosofia e conceitos teóricos estruturadores. Adiciona-se novamente a consciência dos 9 apoios triangulares e do encaixe do quadril e da cabeça, enquanto se caminha.Ouvindo com atenção uma gravação de áudio (dou preferência primeiramente a algumas árias de óperas mais melodiosas) peço que se detecte onde se encontram as dinâmicas de respiração do cantor(a). E à medida que elas forem assimiladas, que sejam reproduzidas juntamente com a reprodução da música, usando um jato de ar suave.
Esse exercício, repetido 3 ou 4 vezes, trocando de música, proporciona o desenvolvimento da sensibilidade auditiva e da pressão negativa, responsável pela entrada imediata de ar nos pulmões, que deve ser pelo nariz, sem forçar e de preferência sem ruído. A intenção é criar uma espécie de fole, que infla com rapidez considerada depois de se encontra esvaziado.

Depois de explorar o exercício em caminhada, pode-se direcioná-lo para uma improvisação criativa, construindo com todo o corpo movimentos contínuos de expansão e contração, passando sempre pelos planos baixo, médio e alto (terra, mar e céu). Envolvendo-se plenamente com esses três planos, o corpo vai entrando em sintonia com a força gravitacional, reconhhecendo as relações de peso, ativando pontos de ressonãncias e relocando o fluxo sanguíneo, principalmente para a cabeça, que deve estar conectada, durante todo exercício, com as costas (coluna vertebral, músculo trapézio, omoplatas,…).

Faz-se necessário durante os exercícios a presença de um preparador corpo-vocal ou de outro profissional, que esteja sensivelmente apto a prestar orientação, caso o intérprete-pesquisador-criador ainda não tenha assimilado os preceitos básicos para a construção de uma rotina de trabalho. O aparecimento de pequenas tonturas é natural neste tipo de prática, pois ocorre uma oxigenação elevada do corpo. Mas recomenda-se que todo artista cênico saiba das suas reais condições físicas, antes de quaisquer atividades. Daí a necessidade de se visitar o médico periodicamente. A ingestão de líquidos num treinamento serve para lubrificar e hidratar, porém não deve ser exagerada, criando um volume demasiado no estômago.

Em uma terceira parte, escreverei sobre aquecimento e desaquecimento da voz, a metodologia para a construção do som-palavra e sobre a unidade sonora.

* Carlos Ferrera é pesquisador, ator, cantor, compositor, dramaturgo, diretor/encenador, preparador corpo-vocal e membro fundador da Cia. Santa-Fogo (Recife-Pernambuco), onde assumi a direção artística, desenvolvendo a linguagem das máscaras expressivas, a mímica corporal dramática, o fluxo criativo em improviso, entre outras vertentes como o vídeo, literatura, música, dança, as artes plásticas e visuais.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Carlos Ferrera, diretor artístico da Cia. Santa-Fogo, no projeto Dança de Algibeira, da Cia. Compassos de Dança



No dia 20, deste mês, no projeto Dança de Algibeira (Cia. Compassos de Dança), a Cia. Santa-Fogo apresentou uma demonstração pública de um aquecimento Corpo-vocal, tendo como representante da companhia o seu diretor artístico Carlos Ferrera.

A Cia. Compassos de Dança vem atuando como um centro de convergência das pesquisas cênicas realizadas na cidade do Recife, além de manter suas próprias criações artísticas. É no espaço dessa companhia que ocorrem as práticas do Coletivo Colaborativo Permanência (nas Terças-Feiras, às 19 horas), ao qual a Cia. Santa-Fogo também integra.

O encontro proporcinado pelo Dança de Algibeira foi de substancial importância. Nesse projeto é possível visualizar vários encaminhamentos de investigações teatrais, de dança e performance. E o acolhimento de toda a equipe da cia. Compassos de Dança merece todos os méritos. Eles nos deixam em casa e nos convidam a estarem sempre à vontade.

Parabéns a todos que fazem o Dança de Algibeira e a Cia. Compassos de Dança.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Cia. Santa-Fogo, no Dança De Algibeira (Segunda, 20 de Abril)

Nesta segunda-feira (20), às 19 horas, a Cia. Santa-Fogo vai estar no projeto Dança De Algibeira, da Compassos cia. de Dança. A atividade proposta vai ser uma demonstração de um aquecimento Corpo-Vocal, com participação do público presente. Iremos problematizar sobre o aquecimento necessário para ativação do trabalho do ator, numa abordagem que não separa as unidades Corpo e Voz. "Quanto tempo precisamos para nos aquecer corporalmente e vocalmente?" e "Por onde começar?" será umas das questões levantadas.

Esperamos todos lá!

Serviço:
O Espaço Compassos fica na Rua da Moeda, nº93, 1º andar – casa rosa com janelas amarelas, entrada pela Rua Mariz de Barros. Informações: 4101.1640

sábado, 11 de abril de 2009

A Voz em Ação na Cena (Parte 2) - Para o Treinamento Corpo-Vocal

O corpo e a voz são unidades indissociáveis. Negar essa organização no processo de produção vocal para as artes cênicas é subutilizar as potencialidades da respiração e das zonas de ressonância, responsáveis pelas possibilidades de conexão emotiva, elaboração de fraseado, controle de volumes e criação de texturas sonoras.Ao longo de minha trajetória com ator, cantor, compositor, diretor/encenador, dramaturgo e preparador corporal e vocal, venho colhendo, desenvolvendo e aplicando uma série exercícios e reflexões acerca do treinamento Corpo-Vocal, endossado por algumas práticas do teatro contemporâneo e de seus pensadores, princípios do canto lírico e popular, da fonoaudiologia, da antropologia teatral e pelos conceitos de intérprete-pesquisador-criador.

O primeiro passo para a ativação do treinamento Corpo-Vocal é a adoção de um alongamento e um aquecimento prévios, evitando assim risco de lesões musculares ou ósseas. Costumo antes mesmo dessa parte, promover uma breve atividade de harmonização em grupo. Isso garante o início da conversão da energia da atitude cotidiana para uma extra-cotidiana.

Logo após essas duas etapas, começa o desbloqueio das áreas articuladas, do centro energético (Chi) e do que chamo de os 9 apoios triangulares. Todos esses pontos devem ser trabalhados de maneira integrada, através de uma exploração de movimentos sinuosos e de deslocamentos nos planos baixo (Terra), médio (Mar) e alto (Céu).Todo corpo deve oferecer-se ao encontro dos três planos, indo de um ao outro sem enrijecer, nem estancar o fluxo continuo do movimento. A cabeça sempre acompanha as dinâmicas propostas, com olhos, boca, língua e pescoço relaxados. Nesse momento da investigação e da auto-verificação, o intérprete-pesquisador-criador, depara-se com seus limites físicos e mentais, no tocante às possibilidades de gerenciamento do corpo em trânsito pelo espaço e aciona naturalmente o mecanismo respiratório, sem adicionar tensões nos ombros, nas costas, nos braços, nas pernas ou no peito. Nasce aqui também uma percepção orgânica da inspiração, de expiração e dos instantes de retenção do ar nos pulmões, que poderá ser utilizada como fator de dilatação para a construção da presença cênica, além de ser um importante fio condutor no mapeamento dos gestos e das ações em cena.

Frequentemente quando faço preparação de elenco, tenho pedido que os atores, bailarinos ou performers façam passagens completas do espetáculo usando apenas o fluxo respiratório. A experiência geralmente é reveladora e desafiadora, pois evidencia a consciência corporal, a precisão dos gestos, ações, bem como verificam os estímulos internos e externos para o uso da voz e do silêncio.

Após a fase de desbloqueio corporal, poderemos então aproveitar o acionamento da respiração para trabalharmos sobre ela. É muito importante saber fazer a transição de um exercício para o outro. A dispersão deve ser nula, em vista de um melhor aproveitamento e assimilação das sensações impressas no corpo e na mente. Pede-se, então, uma caminhada pelo espaço e em seguida lança-se a pergunta: “como está seu corpo e sua respiração agora?”, que não precisa ser respondida verbalmente. A intenção é manter o estado de auto-verificação e investigação de antes. Cabe também neste momento a leitura de algum texto que sirva como estímulo para a concretização do trabalho de criação, bem como frases de mestres do teatro, da filosofia e conceitos teóricos estruturadores. Adiciona-se novamente a consciência dos 9 apoios triangulares e do encaixe do quadril e da cabeça, enquanto se caminha.Ouvindo com atenção uma gravação de áudio (dou preferência primeiramente a algumas árias de óperas mais melodiosas) peço que se detecte onde se encontram as dinâmicas de respiração do cantor (a). E à medida que elas forem assimiladas, que sejam reproduzidas juntamente com a reprodução da música, usando um jato de ar suave.O corpo e a voz são unidades indissociáveis. Negar essa organização no processo de produção vocal para as artes cênicas é subutilizar as potencialidades da respiração e das zonas de ressonância, responsáveis pelas possibilidades de conexão emotiva, elaboração de fraseado, controle de volumes e criação de texturas sonoras.

Ao longo de minha trajetória com ator, cantor, compositor, diretor/encenador, dramaturgo e preparador corporal e vocal, venho colhendo, desenvolvendo e aplicando uma série exercícios e reflexões acerca do treinamento Corpo-Vocal, endossado por algumas práticas do teatro contemporâneo e de seus pensadores, princípios do canto lírico e popular, da fonoaudiologia, da antropologia teatral e pelos conceitos de intérprete-pesquisador-criador.

O primeiro passo para a ativação do treinamento Corpo-Vocal é a adoção de um alongamento e um aquecimento prévios, evitando assim risco de lesões musculares ou ósseas. Costumo antes mesmo dessa parte, promover uma breve atividade de harmonização em grupo. Isso garante o início da conversão da energia da atitude cotidiana para uma extra-cotidiana.

Logo após essas duas etapas, começa o desbloqueio das áreas articuladas, do centro energético (Chi) e do que chamo de os 9 apoios triangulares. Todos esses pontos devem ser trabalhados de maneira integrada, através de uma exploração de movimentos sinuosos e de deslocamentos nos planos baixo (Terra), médio (Mar) e alto (Céu).

Todo corpo deve oferecer-se ao encontro dos três planos, indo de um ao outro sem enrijecer, nem estancar o fluxo continuo do movimento. A cabeça sempre acompanha as dinâmicas propostas, com olhos, boca, língua e pescoço relaxados. Nesse momento da investigação e da auto-verificação, o intérprete-pesquisador-criador, depara-se com seus limites físicos e mentais, no tocante às possibilidades de gerenciamento do corpo em trânsito pelo espaço e aciona naturalmente o mecanismo respiratório, sem adicionar tensões nos ombros, nas costas, nos braços, nas pernas ou no peito. Nasce aqui também uma percepção orgânica da inspiração, de expiração e dos instantes de retenção do ar nos pulmões, que poderá ser utilizada como fator de dilatação para a construção da presença cênica, além de ser um importante fio condutor no mapeamento dos gestos e das ações em cena.

Frequentemente quando faço preparação de elenco, tenho pedido que os atores, bailarinos ou performers façam passagens completas do espetáculo usando apenas o fluxo respiratório. A experiência geralmente é reveladora e desafiadora, pois evidencia a consciência corporal, a precisão dos gestos, ações, bem como verificam os estímulos internos e externos para o uso da voz e do silêncio.

Após a fase de desbloqueio corporal, poderemos então aproveitar o acionamento da respiração para trabalharmos sobre ela. É muito importante saber fazer a transição de um exercício para o outro. A dispersão deve ser nula, em vista de um melhor aproveitamento e assimilação das sensações impressas no corpo e na mente. Pede-se, então, uma caminhada pelo espaço e em seguida lança-se a pergunta: “como está seu corpo e sua respiração agora?”, que não precisa ser respondida verbalmente. A intenção é manter o estado de auto-verificação e investigação de antes. Cabe também neste momento a leitura de algum texto que sirva como estímulo para a concretização do trabalho de criação, bem como frases de mestres do teatro, da filosofia e conceitos teóricos estruturadores. Adiciona-se novamente a consciência dos 9 apoios triangulares e do encaixe do quadril e da cabeça, enquanto se caminha.

Ouvindo com atenção uma gravação de áudio (dou preferência primeiramente a algumas árias de óperas mais melodiosas) peço que se detecte onde se encontram as dinâmicas de respiração do cantor (a). E à medida que elas forem assimiladas, que sejam reproduzidas juntamente com a reprodução da música, usando um jato de ar suave.

Esse exercício, repetido 3 ou 4 vezes, trocando de música, proporciona o desenvolvimento da sensibilidade auditiva e da pressão negativa, responsável pela entrada imediata de ar nos pulmões, que deve ser pelo nariz, sem forçar. A intenção é criar uma espécie de fole, que infla com rapidez considerada quando se encontra esvaziado.

Depois de explorar o exercício em caminhada, pode-se direcioná-lo para uma improvisação criativa, construindo com todo o corpo movimentos contínuos de expansão e contração, passando sempre pelos planos baixo, médio e alto (terra, mar e céu).

Faz-se necessário durante o exercício a presença de um preparador vocal ou de outro profissional, que esteja sensivelmente apto a prestar orientação, caso o intérprete- pesquisador-cirador ainda não tenha assimilado os preceitos básicos para a construção de uma rotina de trabalho Corpo-Vocal. O aparecimento de pequenas tonturas è natural neste tipo de prática, pois ocorre uma oxigenação elevada do corpo. Mas recomenda-se que todo artista cênico saiba das suas reais condições físicas, antes de quaisquer atividades. A ingestão de líquidos num treinamento serve para lubrificar e hidratar, porém não deve ser exagerada, criando um volume demasiado no estômago.

Em uma terceira parte, escreverei sobre aquecimento e desaquecimento da voz, a metodologia para a construção do som-palavra, sobre a unidade sonora, entre outros assuntos.

Carlos Ferrera
(Ator, Cantor, Compositor, Dramaturgo, Diretor/Encenador, Preparador Corpo-Vocal)
Cia. Santa-Fogo

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A voz em Ação na Cena - Parte 1

Estar imerso dentro das práticas e reflexões acerca da voz e de seu uso poético nas artes, é deparar-se com um vasto e sensível campo subjetivo. Costumo dizer que a voz nasce nos espaços entre o corpo e a mente, ocupa o mundo, materializando idéias e paixões.
Tanto artisticamente, como na vida cotidiana, é possível identificar três instâncias expressivas da voz humana: Vocalidade, Verbalidade e Musicalidade. Chama-se Vocalidade os fluxos sonoros que compreendem os sons relacionados aos impulsos e instintos (gemidos de dor, gritos de medo, suspiros de alívios, grunidos, entre outros). A Verbalidade diz respeito ao uso das palavras pertencentes a determinado código linguístico. E a Musicalidade é uma associação de recursos melódicos, harmônicos e rítmicos à voz, podendo abarcar o universo das Vocalidades e Verbalidades.
Lançando um olhar analítico sobre as recentes abordagens críticas de treinamentos vocais para as artes cênicas, constata-se um consenso: A produção da voz deve estar intimamente ligada a uma proposta corporal, abrangendo as três instâncias expressivas já citadas (Vocalidade, Verbalidade e Musicalidade), integrando a geografia da cena (configurações da encenação), localizando e mapeando as dinâmicas respiratórias, intensidades, timbres, tonalidades, deslocamentos, zonas de solidão e solilóquio, convívios e contracenas, instaurando no palco o habitat natural do atuante.
O treinamento vocal eficiente leva em consideração a estruturação orgânica do aparelho fonador e respiratório, correlacionando-os com todo o restante do corpo, construindo assim a consciência Corpo-Vocal.
O artista do palco deve conhecer e reconhecer seu material físico e mental (corpo e mente) direcionando-se para a construção cênica através de uma ação prévia, que chama-se "pré-para-a-ação" (preparação). Esse momento assume a característica de uma etapa formativa, onde estruturam-se os condicionamentos, os exercícios práticos e as reflexões sobre os usos e as possibilidades da voz cênica.
Orientar, em primeiro lugar, para o "manuseio" correto da respiração faz-se extremamente necessário. O total controle da respiração constitui elemento primordial para a excelência do trabalho cênico. A real noção de como manipular o ar é uma premissa para a obtenção de resultados artísticos mais consitentes. O bom artista cênico é aquele que sabe reger o fluxo de ar de dentro para fora, de fora para dentro. É aquele que rege o sopro e as palavras. É sabido que atores, performers, bailarinos, cantores e circenses, respiram muito a cima do registro cotidiano. E isso quer dizer tudo quando justifica-se a importância de uma total gerência dos mecanismos relacionados ao processo respiratório.
Na familiarização com as três partes cosntituintes da respiração (inspiração, expiração e retenção), obtém-se a capacidade de elaboração de significados poéticos e uma enorme quantidade de recursos técnicos e estilísticos, no tocante ao trato com as palavras, e com o próprio corpo em seus deslocamentos e imobilidades.
Trabalhar diretamente sobre a respiração requer uma entrega corporal. "Respirar bem na cena" compreende a atitude consciente de abrir os espaços internos do corpo inspirando o ar, retendo-o e expirando-o; cabendo durante fases de treinamento técnico ou como recurso estilístico, durante a representação ou performance, a retenção dos pulmões esvaziados depois da etapa expiratória.
Quando inspiramos, expandimos os pulmões, que inflam, e o músculo diafragma desce. Com esse abaixamento do diafragma, outros orgão sofrem um deslocamento. E quando expiramos os pulmões secam e o diafragma sobe, reposicionando a estrutura deslocada na expiração. É claro que muitos outros fenômenos acontecem numa respiração completa: sangue oxigenado corre pelo corpo propiciando a troca gasosa para as células, impulsos elétricos são estimulados, em nível cerebral, os tecidos renovam-se e expelem toxinas, etc. A respiração é um processo que integra todo o organismo em prol da manutenção vital.
Ao lidarmos artisticamente com a respiração, estamos manipulando toda uma rede microscópica de alterações internas. Respirando em cena, podemos retardar a chegada do ar nos pulmões, e com isso alterar o PH do sangue; podemos estimular as glândulas lacrimais, provocando o choro; acionar centros nervosos, responsáveis pelo riso, pela tristeza, pela libido, pela raiva, entre outros.
Pra produzir sons, palavras, gestos e movimentos em arte, respira-se com uma outra dinâmica, diversa da cotidiana. Na vida do "dia-a-dia", tendemos para o relaxamento. No palco, diferentemente, as tensões, as zonas de conflitos, evidenciam-se pelo truque, pelo efeito, pelo risco, pelo dramático, pelo cômico e pelo trágico.
Existindo uma comunhão, um padrão respiratório instaurado no ato da representação, o público e o(s) artista(s) tornam-se cúmplices. Essa cumplicidade dá-se, em grande parte, por uma frequência aeróbica vinda do espaço cênico, que leva o público para o processo cinestésisco. Quando o público não compartilha da mesma dinâmica respiratória com a cena, deflagra-se a dispersão, a desatenção. O público tem de estar dentro do jogo.
Carlos Ferrera
(Diretor/Encenador/Preparador Vocal/Cantor/Compositor/Ator/Dramaturgo)
Cia. Santa Fogo

sábado, 21 de março de 2009

A cia. Santa-Fogo apresenta-se na próxima sexta-feira (27), no Pátio de São Pedro (Recife)

Nesta sexta (27), no Pátio de São Pedro (Recife), Cia. Santa-Fogo apresenta a performance "3,14..., o número infinito" e a leitura dramática do conto "O Homem da Cabeça de Papelão", dando início ao processo de contrução de seu mais novo espetáculo, que estreia no segundo semestre!

A ação é do coletivo de grupo e artistas independentes "Colaborativo Permanência" pelo DIA INTERNACIONAL DO TEATRO e contará com outras atrações, a partir das 13 horas!