quinta-feira, 21 de maio de 2009

Fotos de Aracaju!

Obrigado Aracaju pelas belas experiências!
Postei aqui algumas das fotos de nossa vivência tão eterna!
Grande beijo a todos e todas!
Girando, girando, girando,...

Beijos e abraços terníssimos!

Carlos Ferrera









Olá, gente!
Aqui estou eu de volta à Recife, para o seio da minha Cia. Santa-Fogo, cheio de saudades da oficina PROCESSO DE ENCENAÇÃO, pelo FTB (Festival do Teatro Brasileiro - Cena Pernambucana), em Aracaju, onde fiz parte da equipe de oficineiros, respondendo pela orientação Corpo-Vocal, e com Kleber Lourenço assinei a direção Geral do resultado final. Gente, sorrisos, arte, superação, crescimentos, lágrimas de uma alegria viva, um vida-a-vida urgente em oito horas de trabalhos diários.

Deixo aqui sinceros agradecimentos a todos que fizeram esta história, que culminou num lindo resultado: Onde Fica a Praça Camerino?. Abraços em todos da turma de atores que deram sempre um tanto mais de suas energias para realizarem esse momento único e eterno! Abraço terno nos novos amigos e aos colaboradores de passagem pelas oficinas específicas, orientadas por Marceo Sena (Sonoplastia), Luciano Pontes (Figurino), George Cabral (Cenografia), Gera Cyber (Maquiagem), Eron Vilar (Iluminação)e Luiz Felipe Botelho (Dramaturgia), que nos presenteou com um lindo texto, feito com a colaboração de dos atores participantes da oficina.

Deixo também um especial abraço para o Marcondes Lima, o coordenador pedagógico desse mágico empreendimento, para o Sérgio Bacelar o super sonhador-produtor do FTB, para a Luana Fonteles, a sua escudeira e nossa também e ao Rodrigo Farias, sempre pronto a nos levar de canto a canto da cidade!

Então espero volta à Aracaju e reencontrar essa turma toda e estar com eles numa sempre nova alegria!

terça-feira, 12 de maio de 2009

TEXTOS SOBRE O CORPO-VOCAL ATUALIZADOS

Olá, gente!

Estou nesse exato momento na cidade de Aracaju, capital de Sergipe, onde estou dando uma oficina, para o FESTIVAL DO TEATRO BRASILEIRO - CENA PERNAMBUCANA. Resolvi então atualizar os textos que havia escrito sobre o treinamento Corpo-Vocal, inserindo algumas alterações nos conceitos e corrigindo alguns erros gramaticais.

Um grande abraço em todos!

Carlos Ferrrera

A voz em Ação na Cena (Parte 1) - Preceitos

Carlos Ferrera*

Estar imerso dentro das práticas e reflexões acerca da voz e de seu uso poético nas artes, é deparar-se com um vasto e sensível campo subjetivo. Costumo dizer que a voz nasce nos espaços entre o corpo e a mente, ocupa o mundo, materializando idéias e paixões.

Tanto artisticamente, como na vida cotidiana, é possível identificar três instâncias expressivas da voz humana: Vocalidade, Verbalidade e Musicalidade. Chama-se Vocalidade os fluxos sonoros que compreendem os sons relacionados aos impulsos e instintos (gemidos de dor, gritos de medo, suspiros de alívios, grunidos, entre outros). A Verbalidade diz respeito ao uso das palavras pertencentes a determinado código linguístico. E a Musicalidade é uma associação de recursos melódicos, harmônicos e rítmicos à voz, podendo abarcar o universo das Vocalidades e Verbalidades.

Lançando um olhar analítico sobre as recentes abordagens críticas de treinamentos vocais para as artes cênicas, constata-se um consenso: A produção da voz deve estar intimamente ligada a uma proposta corporal, abrangendo as três instâncias expressivas já citadas (Vocalidade, Verbalidade e Musicalidade), integrando a geografia da cena (configurações da encenação), localizando e mapeando as dinâmicas respiratórias, intensidades, timbres, tonalidades, deslocamentos, zonas de solidão e solilóquio, convívios e contracenas, instaurando no palco o habitat natural do atuante.

O treinamento vocal eficiente leva em consideração a estruturação orgânica do aparelho fonador e respiratório, correlacionando-os com o restante do corpo, construindo assim a consciência Corpo-Vocal.

O artista do palco deve conhecer e reconhecer seu material físico e mental (corpo e mente) direcionando-se para a construção cênica através de uma ação prévia, que chama-se "pré-para-a-ação" (preparação). Esse momento assume a característica de uma etapa formativa, onde estruturam-se os condicionamentos, os exercícios práticos e as reflexões sobre os usos e as possibilidades da voz cênica.

Orientar, em primeiro lugar, para o "manuseio" correto da respiração faz-se extremamente necessário. O total controle da respiração constitui elemento primordial para a excelência do trabalho cênico. A real noção de como manipular o ar é uma premissa para a obtenção de resultados artísticos mais consitentes. O bom artista cênico é aquele que sabe reger o fluxo de ar de dentro para fora, de fora para dentro. É aquele que rege o sopro e as palavras. É sabido que atores, performers, bailarinos, cantores e circenses, respiram muito a cima do registro cotidiano. E isso quer dizer tudo quando justifica-se a importância de uma total gerência dos mecanismos relacionados ao processo respiratório.

Na familiarização com as quatro partes constituintes da respiração, inspiração, retenção positiva (pulmões cheios de ar), expiração e retenção negativa (pulmões esvaziados), obtém-se a capacidade de elaboração de significados poéticos e uma enorme quantidade de recursos técnicos e estilísticos, no tocante ao trato com as palavras, com produção de texturas sonoras e de silêncios, e com o próprio corpo em seus deslocamentos e imobilidades.

Trabalhar diretamente sobre a respiração requer uma entrega corporal. "Respirar bem na cena" compreende a atitude consciente de abrir os espaços internos do corpo, inspirando o ar, retendo-o e expirando-o; cabendo durante fases de treinamento técnico ou como recurso estilístico, durante a representação ou performance, a retenção dos pulmões esvaziados depois da etapa expiratória (Retenção negativa).

Quando inspiramos, expandimos os pulmões, que inflam, e o músculo diafragma desce. Com esse abaixamento do diafragma, outros orgão sofrem um deslocamento. E quando expiramos os pulmões secam e o diafragma sobe, reposicionando a estrutura deslocada na inspiração. É claro que muitos outros fenômenos acontecem numa respiração completa: o sangue oxigenado corre pelo corpo propiciando a troca gasosa para as células, impulsos elétricos são estimulados, em nível cerebral, os tecidos renovam-se e expelem toxinas, etc. A respiração é um processo que integra todo o organismo em prol da manutenção vital.

Ao lidarmos artisticamente com a respiração, estamos manipulando toda uma rede microscópica de alterações internas. Respirando em cena, podemos retardar a chegada do ar nos pulmões, e com isso alterar o PH do sangue; podemos estimular as glândulas lacrimais, provocando o choro; acionar centros nervosos, responsáveis pelo riso, pela tristeza, pela libido, pela raiva, entre outros.

Pra produzir sons, palavras, gestos e movimentos em arte, respira-se com uma outra dinâmica, diversa da cotidiana. Na vida do "dia-a-dia", tendemos para o relaxamento. No palco, diferentemente, as tensões, as zonas de conflitos, evidenciam-se pelo truque, pelo efeito, pelo risco, pelo dramático, pelo lírico e pelo épico.
E existindo uma comunhão, um padrão respiratório instaurado no ato da representação, o público e o(s) artista(s) tornam-se cúmplices. Essa cumplicidade dá-se, em grande parte, por uma frequência aeróbica vinda do espaço cênico, que leva o público para o processo cinestésisco. Quando o público não compartilha da mesma dinâmica respiratória com a cena, deflagra-se a dispersão, a desatenção. O público tem de estar dentro do jogo.
* Carlos Ferrera é pesquisador, ator, cantor, compositor, dramaturgo, diretor/encenador, preparador corpo-vocal e membro fundador da Cia. Santa-Fogo (Recife-Pernambuco), onde assumi a direção artística, desenvolvendo a linguagem das máscaras expressivas, a mímica corporal dramática, o fluxo criativo em improviso, entre outras vertentes como o vídeo, literatura, música, dança, as artes plásticas e visuais.

A Voz em Ação na Cena (Parte 2) - Para o Treinamento Corpo-Vocal (Texto atualizado)

Carlos Ferrera*

O corpo e a voz são unidades indissociáveis. Negar essa organização no processo de produção vocal para as artes cênicas é subutilizar as potencialidades da respiração e das zonas de ressonância, responsáveis pelas possibilidades de conexão emotiva, elaboração de fraseado, controle de volumes e criação de texturas sonoras. Ao longo de minha trajetória como ator, cantor, compositor, diretor/encenador, dramaturgo e preparador de elenco, venho colhendo, desenvolvendo e aplicando uma série exercícios e reflexões acerca do Treinamento Corpo-Vocal, endossado por algumas práticas do teatro contemporâneo e de seus pensadores, princípios do canto lírico e popular, da fonoaudiologia, da antropologia teatral e pelos conceitos de intérprete-pesquisador-criador.

O primeiro passo para a ativação do Treinamento Corpo-Vocal é a adoção de um alongamento e um aquecimento prévios, evitando assim risco de lesões musculares ou ósseas. Costumo antes mesmo dessa parte, promover uma breve atividade de harmonização em grupo. Isso garante o início da conversão da energia da atitude cotidiana para uma extra-cotidiana.

Logo após essas duas etapas, começa o desbloqueio das áreas articuladas, do centro energético (Chi) e do que chamo de os 9 apoios triangulares. Todos esses pontos devem ser trabalhados de maneira integrada, através de uma exploração de movimentos sinuosos e de deslocamentos nos planos baixo (Terra), médio (Mar) e alto (Céu). Todo corpo deve oferecer-se ao encontro dos três planos, indo de um ao outro sem enrijecer, nem estancar o fluxo contínuo do movimento. A cabeça sempre acompanha as dinâmicas propostas, com olhos, boca, língua e pescoço relaxados, em conexão direta com a coluna vertebral. Nesse momento da investigação e da auto-verificação, o intérprete-pesquisador-criador, depara-se com seus limites físicos e mentais, no tocante às possibilidades de gerenciamento do corpo em trânsito pelo espaço e aciona naturalmente o mecanismo respiratório, sem adicionar tensões nos ombros, nas costas, nos braços, nas pernas ou no peito. Nasce aqui também uma percepção orgânica da inspiração, da expiração e dos instantes de retenção do ar nos pulmões (retenção positiva: pulmões cheios de ar; retenção negativa: pulmões esvaziados), que poderá ser utilizada como fator de dilatação para a construção da presença cênica, além de ser um importante fio condutor no mapeamento dos gestos e das ações em cena.

Frequentemente quando faço preparação de elenco, tenho pedido que os atores, bailarinos ou performers façam passagens completas do espetáculo usando apenas o fluxo respiratório. A experiência geralmente é reveladora e desafiadora, pois evidencia a consciência corporal, a precisão dos gestos, ações, bem como verificam os estímulos internos e externos para o uso da voz e do silêncio.

Após a fase de desbloqueio corporal, poderemos então aproveitar o acionamento da respiração para trabalharmos sobre ela. É muito importante saber fazer a transição de um exercício para o outro. A dispersão deve ser nula, em vista de um melhor aproveitamento e assimilação das sensações impressas no corpo e na mente. Pede-se, então, uma caminhada pelo espaço e em seguida lança-se a pergunta: “como está seu corpo e sua respiração agora?”, que não precisa ser respondida verbalmente. A intenção é manter o estado de auto-verificação e investigação de antes. Cabe também neste momento a leitura de algum texto que sirva como estímulo para a concretização do trabalho de criação, bem como frases de mestres do teatro, da filosofia e conceitos teóricos estruturadores. Adiciona-se novamente a consciência dos 9 apoios triangulares e do encaixe do quadril e da cabeça, enquanto se caminha.Ouvindo com atenção uma gravação de áudio (dou preferência primeiramente a algumas árias de óperas mais melodiosas) peço que se detecte onde se encontram as dinâmicas de respiração do cantor(a). E à medida que elas forem assimiladas, que sejam reproduzidas juntamente com a reprodução da música, usando um jato de ar suave.
Esse exercício, repetido 3 ou 4 vezes, trocando de música, proporciona o desenvolvimento da sensibilidade auditiva e da pressão negativa, responsável pela entrada imediata de ar nos pulmões, que deve ser pelo nariz, sem forçar e de preferência sem ruído. A intenção é criar uma espécie de fole, que infla com rapidez considerada depois de se encontra esvaziado.

Depois de explorar o exercício em caminhada, pode-se direcioná-lo para uma improvisação criativa, construindo com todo o corpo movimentos contínuos de expansão e contração, passando sempre pelos planos baixo, médio e alto (terra, mar e céu). Envolvendo-se plenamente com esses três planos, o corpo vai entrando em sintonia com a força gravitacional, reconhhecendo as relações de peso, ativando pontos de ressonãncias e relocando o fluxo sanguíneo, principalmente para a cabeça, que deve estar conectada, durante todo exercício, com as costas (coluna vertebral, músculo trapézio, omoplatas,…).

Faz-se necessário durante os exercícios a presença de um preparador corpo-vocal ou de outro profissional, que esteja sensivelmente apto a prestar orientação, caso o intérprete-pesquisador-criador ainda não tenha assimilado os preceitos básicos para a construção de uma rotina de trabalho. O aparecimento de pequenas tonturas é natural neste tipo de prática, pois ocorre uma oxigenação elevada do corpo. Mas recomenda-se que todo artista cênico saiba das suas reais condições físicas, antes de quaisquer atividades. Daí a necessidade de se visitar o médico periodicamente. A ingestão de líquidos num treinamento serve para lubrificar e hidratar, porém não deve ser exagerada, criando um volume demasiado no estômago.

Em uma terceira parte, escreverei sobre aquecimento e desaquecimento da voz, a metodologia para a construção do som-palavra e sobre a unidade sonora.

* Carlos Ferrera é pesquisador, ator, cantor, compositor, dramaturgo, diretor/encenador, preparador corpo-vocal e membro fundador da Cia. Santa-Fogo (Recife-Pernambuco), onde assumi a direção artística, desenvolvendo a linguagem das máscaras expressivas, a mímica corporal dramática, o fluxo criativo em improviso, entre outras vertentes como o vídeo, literatura, música, dança, as artes plásticas e visuais.